Jesus e o direito básico de ser criança

Carlos Queiroz

Há direitos básicos à vida. Todo animal precisa de abrigo, proteção, alimento e água para viver – seja um ninho para as aves, uma toca para as raposas. Muitas de nossas crianças estão sendo privadas dessas necessidades tão essenciais à vida animal.
Olhando a vida de Jesus, percebemos o quanto esses direitos básicos lhe foram propiciados. Ele teve o direito de viver em família. Nasceu num lar pobre, mas desfrutou do acolhimento amoroso de seus pais, que sonharam com a sua chegada (Lc 2.21). Jesus teve direito à cidadania – tinha um nome e uma identidade vinculada com a cidade natal, Belém (Mt 2.6).
Gostaria de dizer a todos os pais o quanto é importante receber com amor uma criança recém-nascida! Sou o exemplo de um menino que nasceu num barraco de pau-a-pique, mas que foi acolhido com muito carinho. Podemos propagar melhor para os pais e mães de nossas comunidades o quanto eles podem amar do mesmo modo que Maria e José amaram a Jesus.
Ele desfrutou de todas as celebrações destinadas às crianças de sua cultura. Foi apresentado no templo sem qualquer discriminação. O sacerdote Simeão o recebeu como príncipe e celebrou poeticamente a chegada do Messias.
As festas judaicas também fizeram parte da vida de Jesus. Na adolescência foi a Jerusalém como de costume: “Todos os anos seus pais iam a Jerusalém para a festa da Páscoa” (Lc 2.41). Numa dessas ocasiões, Jesus estava com 12 anos de idade. Ele teve o direito de conversar com autoridades importantes, que não impediram um adolescente de ter acesso aos seus conhecimentos e diálogos. Jesus os ensinou e fez perguntas. O verso 47 diz que eles estavam maravilhados com o seu entendimento e as suas respostas. Qual o espaço para perguntas e questionamentos de crianças e adolescentes em nossos ambientes religiosos? Como eles participam de nossos diálogos e de nossa liturgia?
Jesus teve o direito e o privilégio de participar de uma comunidade que inspirava confiança e tranqüilidade aos pais. Eles foram à festa em Jerusalém, mas somente depois de um dia de caminhada Maria e José perceberam que Jesus não estava entre eles. Vieram encontrá-lo depois de três dias. O que gerava tanta confiança nos pais? Por que não se preocuparam antes em saber se o menino vinha com eles? O verso 44 responde: “Pensando que ele estava entre os companheiros de viagem, caminharam o dia todo”.
Fico muito feliz quando escuto histórias de pais que trabalham durante todo o dia, mas que sabem que em suas comunidades há um lugar de apoio seguro para seus filhos. Algumas vezes numa quadra com atividades esportivas, outras no salão de uma igreja participando de cursos ou de recreação etc. Como sociedade civil organizada precisamos exigir dos órgãos públicos esses direitos de segurança, lazer e socialização para nossas crianças e nossos adolescentes. Devemos mudar a cultura de violência nos bairros das grandes cidades. Grupos criminosos organizados passaram a formar líderes jovens nas comunidades. Precisamos devolver às nossas crianças o direito de escolher outros tipos de liderança capazes de amar, pacificar e viver com solidariedade.
“Jesus ia crescendo em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens” (v. 52). A sabedoria é fomentada quando há um ambiente favorável ao aprendizado. O crescimento em estatura depende da boa alimentação, do cuidado com a saúde. E o crescimento em graça diante de Deus e das pessoas depende da chance de praticar uma espiritualidade de comunhão com ele e com os homens. O que estamos fazendo para que as nossas crianças tenham acesso ao conhecimento e cresçam em estatura e graça diante de Deus e das pessoas?

Carlos Queiroz, casado, dois filhos, é pastor da Igreja de Cristo e professor do Seminário Teológico de Fortaleza, CE. É diretor-executivo da Visão Mundial no Brasil e autor de
Ser É o Bastante; felicidade à luz do Sermão do Monte (Editora Ultimato e Encontro Publicações).
http://www.maosdadas.net/?pg=show_artigos&area=revista&artigo=285&sec=159&num_edicao=17&util=1

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Juliana Olivencia